Hoje eu rezei pedindo pra aprender a amar. Não necessariamente um homem, o príncipe encantado, que esse dizem que nem existe mesmo. Embora eu ainda queira o meu. Mas amar as pessoas. Saber dedicar um bom sentimento a alguém, a todos. Olhar pra alguém na rua, ao lado, no banco da praça, na fila do restaurante, do cinema, na loja, no estacionamento, e, simplesmente olhar com doçura, com leveza. Sem ruindade, sem malicia, sem medo, sem preguiça de me aproximar, sem receio de me magoar. Olhar com amor. Saber amar. E, mal eu tinha acabado de rezar, encontrei um passarinho na garagem do prédio. Ou eu parava, ou eu atropelava o pobrezinho. Baixei do carro, na chuva, peguei o tadinho, coloquei na blusa e lá me fui procurar um lugar pra tentar deixá-lo longe de encrencas. Arrumei um espaço e fui procurar um pano. Ele voou. Voou, voou e deu pra ver que sabia voar. OK. Vou pra casa. Não, a pestinha reaparece no meu caminho, no meio do caminho. Juntei de novo, peguei o pano que havia encontrado quando ele fugiu e fiz uma espécie de ninho. Deixei ele lá. Que mais eu podia fazer? Ainda pensei: ele também tem livre escolha. Subi pro apartamento e de repente me dei conta: eu amei. E gostei. Não quero endurecer, não quero me fechar, não quero saber dizer não pra tudo e ficar intocável. Eu realmente quero aprender a amar. Quero amolecer. Quero aprender a ser boba, me encantar com pequenas coisas, como um passarinho protegido na minha blusa.